HISTÓRICO
O potencial de contribuição, que técnicas de Sensoriamento Remoto, poderiam trazer à Ciência do Solo, sempre foi algo claro para o Professor José Alexandre M. Demattê. Inicialmente em seu mestrado, sob orientação dos Professores Valdemar Antonio Demétrio e Geraldo Victorino de França da ESALQ/USP, utilizou fotografias aéreas para estudos de solos, técnica denominada Fotopedologia (Demattê, 1992). Sempre correlacionando o que era observado em laboratório (dados remotos) com o que era observado em campo. Contando para a realização dos trabalhos de campo com a supervisão de diversos professores e pesqueisadores como: José Luiz Ioriatti Demattê (ESALQ/USP), João Bertoldo de Oliveira (IAC), Jairo Antonio Mazza (ESALQ/USP), Rafael R. Aloisi (ESALQ/USP) e Pablo Vidal-Torrado (ESALQ/USP).
Já no início de seu doutorado, desenvolvido sob orientação do Prof. Gilberto José Garcia, foi apresentado às denominadas curvas espectrais de solos. Sem saber bem do que se tratava, mas notadamente visto que era algo inovador e instigante, desenvolveu seu doutorado utilizando dados de sensores terrestres e remotos no estudo de solos, publicando sua tese de doutorado em 1995 (Demattê, 1995). Sabendo o potencial e importância do tema, investiu no aprofundamento de suas aplicações área e realizou seu primeiro pós-doc no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Trabalhando com os renomados pesquisadores da área de sensoriamento remoto, Dr. José Carlos Neves Epiphanio, Antonio Roberto Formaggio e Lênio Soares Galvão. Lá conheceu o estudo de espectros de solos do estado de São Paulo (Epiphanio et al., 1992) e o Atlas dos Estados Unidos (Stoner e Baumgarnder, 1981). Tais documentos apresentavam, na forma de figuras, curvas espectrais de diferentes classes de solos, e correlacionavam as carascteristicas das mesmas com as características dos solos em questão, descrevendo assim o comportamento espectral desses. Tais trabalhos foram os precursores do estudo de espectros (curvas espectrais) de solos do Brasil e no exterior, inspirando a concepção da ideia da criação de um grande banco de dados contendo espectros de solos de diferentes partes do Brasil, que posteriormente foi denominada Biblioteca Espectral de Solos do Brasil (BESB).
A BESB teve seu início em 1995, a partir dos dados obtidos durante o doutorado do professor Demattê. A partir disso, a cada trabalho de campo realizado em diferentes partes do Brasil, as amostras de terra coletadas eram levadas para laboratório para aquisição de seus respectivos dados espectrais. Inicialmente somente eram coletados dados na faixa espectral do visível, infravermelho próximo e infravermelho de ondas curtas (Vis-NIR-SWIR) entre 350-2500 nm. Mais recentemente passou-se a também serem adquiridos dados espectrais na faixa do infravermelho médio (Mid-IR), entre 4000 - 600 cm-1. Em 2003, com o apoio da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS), através de artigos publicados nos seus boletins informativos (Demattê te al., 2009; Demattê & Lacerda, 2014) iniciou-se uma série de cooperações com pesquisadores de diferentes regiões do país. Tais parcerias visaram à ampliação da BESB, o desenvolvimento científico e a ampliação do uso de dados espectrais na ciência do solo brasileira.
A participação na ampliação da BESB se deu de forma voluntária e com compromisso mútuo. Entretanto, inicialmente havia uma enorme dificuldade em mostrar a todos a importância do tema. Porém, na medida em que mais informações chegavam aos pesquisadores e os mesmos compreendiam a importância da iniciativa, a adesão foi massiva. Inúmeros profissionais de todo o Brasil entraram em contato desejando cooperar. Além disso, muitos passaram a divulgar voluntariamente a iniciativa, impulsionando a criação de uma rede de cooperação. Os parceiros então enviavam suas amostras de terra à ESALQ-USP, mais especificamente ao Grupo de Geotecnologias em Ciência do Solo (GEOCIS) do Departamento de Ciência do Solo.
Mais recentemente, com o advento do Projeto Tematico Geotecnologias no Mapeamento Digital Pedológico Detalhado e Biblioteca Espectral de Solos do Brasil: Desenvolvimento e Aplicações, da FAPESP (2014-22260-0), houve a consolidação de um numero maior de dados e a iniciativa de montagem de aplicações práticas da BESB. Tal projeto se consolidou e deu início a BESBap (Biblioteca Espectral de Solos do Brasil Aplicada). A BESBap é uma versão da BESB que visa demonstrar e estimular a aplicação e uso da mesma pela sociedade através de uma plataforma interativa gratuita.
Referências:
BELLINASO, H.; DEMATTÊ, J. A. M.; ROMEIRO, S. A. Soil spectral library and its use in soil classification. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 34, n. 3, p. 861-870, 2010.
DEMATTÊ, José Alexandre Melo. Utilização de parâmetros de drenagem com o auxilio de fotografias aéreas, na caracterização de solos desenvolvidos de rochas eruptivas, no estado do Paraná. Piracicaba, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", 1992. 141p (Dissertação de Mestrado). Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11140/tde-20191218-104953/en.php
DEMATTÊ, José Alexandre Melo. Relações entre dados espectrais e características físicas, químicas, e mineralógicas de solos desenvolvidos de rochas eruptivas. Piracicaba, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", 1995. 265p (Tese de Doutorado). Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11140/tde-20191220-110140/pt-br.php
DEMATTÊ, J. A. M., TERRA, F. e RIZZO, R. Desenvolvimento de uma biblioteca spectral de solos. Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. maio-agosto, p. 29-31, 2009.
DEMATTÊ, J. A. M. e LACERDA, M. P. C. Projeto Biblioteca Espectral de Solos do Brasil – BESB. Newsletter da Comissão de Pedometria da SBCS, n. 4, Julho de 2014.
DEMATTÊ, J. A. M. et al. The Brazilian Soil Spectral Library (BSSL): A general view, application and challenges. Geoderma, v. 354, p. 113793, 2019.
EPIPHANIO, J. C. N. et al. Comportamento espectral de solos do Estado de São Paulo. São José dos Campos: INPE, p. 131, 1992.
SATO, Marcus Vinicius. Primeira aproximação da biblioteca espectral de solos do Brasil: caracterização de espectros de solos e quantificação de atributos. Piracicaba, Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", 2015. 103p (Dissertação de Mestrado).
STONER, E. R.; BAUMGARDNER, M. F. Characteristic Variations in Reflectance of Surface Soils 1. Soil Science Society of America Journal, v. 45, n. 6, p. 1161-1165, 1981.
VISCARRA-ROSSEL, R.A. et al. A global spectral library to characterize the world's soil. Earth-Science Reviews, v. 155, p. 198-230, 2016.